29/11/2024
– Principal regulador do clima do planeta,
pela capacidade de absorção de um
quarto dos gases de efeito estufa (GEE) globais,
o oceano registrou em 2023 as temperaturas da superfície
mais altas. As consequências desse processo
envolvem o aumento do nível do mar e a acidificação
da água, entre outros aspectos biofísicos
e impactos socioeconômicos. Os dados estão
no relatório da Unesco sobre o estado do
oceano.
Nas últimas
duas décadas, a taxa de aquecimento da superfície
do oceano, que considera até 2mil metros
de profundidade, dobrou. Comparado com os níveis
pré-industriais, as temperaturas aumentaram
em média 1,45°C. Contudo, no Mediterrâneo,
no Atlântico Tropical e nos Austrais, o aumento
ficou acima de 2°C.
“Apenas
em 2023 e 2024, a temperatura aumentou para 20.8°C
a 21.2°C, ou seja, tivemos em apenas um ano
o mesmo aumento de temperatura do que nos últimos
dez anos e, ao todo, temos 0,7°C a 0,8°C
a mais em uma década”, analisa o pesquisador
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
Ronaldo Christofoletti. Único brasileiro
que integra o grupo de autores do relatório,
o pesquisador compara a situação com
o aumento da temperatura do corpo humano e classifica
que o oceano está em estado febril.
No mês
passado, segundo o serviço meteorológico
europeu, a temperatura média da superfície
do mar entre as latitudes 60°S-60°N (que
delimitam os oceanos Ártico e Antártico),
foi de 20,93°C. Além de ser registro
mais alto para o mês, maio entrou como o 14°
mês consecutivo de aquecimento da superfície
do mar. Anteriormente, a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) já havia
destacado a preocupação com as ondas
de calor marinhas.
A
expectativa indicada no Sexto Relatório de
Avaliação do Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC) é de
que esse aquecimento continue e possa causar mudanças
irreversíveis.
Ainda
de acordo com o relatório, não bastasse
o aquecimento da superfície, monitoramento
realizado desde 2005 indica que as temperaturas
da água no oceano profundo também
estão aumentando.
O aquecimento
das temperaturas do oceano é responsável
por 40% do aumento global do nível do mar.
A água expande à medida que aquece.
O oceano tem absorvido 90% do excesso de calor.
Os restantes 60% são causados pelo derretimento
dos glaciares das montanhas e dos mantos de gelo
da Antártida e da Groenlândia. O nível
do mar aumentou 9 cm ao longo de 30 anos.
Entre
25 e 30% das emissões de gases de efeito
estufa produzidos principalmente por queima de combustíveis
fósseis são absorvidas pelo oceano.
A interação do CO2 com a água
do mar altera a química do carbonato, levando
à acidificação.
Importância
do conhecimento científico para políticas
públicas - De acordo com o analista sênior
de políticas e indicadores de ciência
e tecnologia do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Roberto
de Pinho, que integrou o comitê assessor para
a organização do relatório,
o documento não destaca mas relembra a centralidade
e a importância do conhecimento científico
para endereçar os diversos desafios que o
oceano, a terra e a humanidade vêm enfrentando.
Segundo Pinho, o cenário apresentado impõe
senso de urgência a incrementar os esforços
em pesquisa e desenvolvimento, em ciência,
tecnologia e inovação. “Nos
urge também a transformar estes esforços
para que sejam feitos de mão dadas com todas
e todos, simultaneamente e em sintonia com o desenho
e implementação de políticas
públicas e de ações que permeiem
toda a sociedade para o enfrentamento de desafios
que já estão aí”, afirmou
Pinho.
Do MCTI/Governo
Federal
Fotos: Pixabay/Reprodução |