06/05/2018
– Observar a natureza e encontrar nela soluções
para a vida humana, novas formas de tecnologia e inovação
é prática comum na história. Há séculos
nos inspiramos nas mais variadas formas de vida para criar, adaptar
e copiar características marcantes da fauna e da flora.
A ciência hoje é
conhecida como “biomimética”, ou seja, o estudo
que tem por objetivo identificar estruturas biológicas,
bem como suas funções, para adaptar ou criar soluções
e estratégias, aplicadas a outras ciências como a
física, química, matemática, informática,
design de produtos e a própria biologia. Do grego bios
(vida) e mímesis (imitação) a biomimética
tem cada vez mais aplicação na evolução
humana.
Os exemplos de soluções
inspiradas em sistemas biológicos estão nas mais
diversas áreas. Quando você abre ou fecha uma carteira,
um compartimento na mochila ou um bolso na roupa, talvez não
imagine, mas o velcro foi criado a partir da biomimética.
Substituindo zipers e botões, a inovação
foi inspirada no carrapicho, àqueles que grudam nas roupas
quando caminhamos pelo mato. Depois de uma experiência do
engenheiro suíço Georges de Mestral, que após
uma saída com seu cão pela floresta, retornou com
carrapichos grudados à roupa e observou a estrutura dessas
plantas. A partir dessa experiência, Mestral desenvolveu
uma forma sintética para o que seria anunciado, em 1958,
ao mundo como o “zíper sem zíper”.
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Os trens-bala passaram a ter seu nariz
modelado, com o formato similar ao bico do martim-pescador.
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Muitas outras inovações
foram criadas com base na biomimética, desde veículos,
como o Mercedes-Benz Bionic, inspirado no peixe-cofre (Ostracion
cubicus), que vive nos oceanos. Displays e telas que foram criados
para não refletir a luz solar e deixar sua visualização
mais confortável e eficiente, baseados em borboletas e
suas asas coloridas que refletem a luz solar, como a Qualcomm,
que desenvolveu a tecnologia para as telas Mirasol.
A energia eólica que ficou
mais eficiente com a criação de pás inspiradas
nas barbatanas de baleias. Sistemas de ar condicionado baseados
em cupinzeiros. O efeito lótus, baseado na flor que repele
água e impurezas, que está sendo estudado para a
aplicação em tecidos, metais e produtos como faróis
de automóveis e para-brisas de aviões e carros.
Trajes inspirados na pele de peixes, como as roupas usadas por
nadadores profissionais, como o multimedalhista Michael Phelps,
que melhoram o desempenho, entre outras tantas inovações
e invenções.
A inspiração das
aves na biomimética
Sobre a colaboração
das aves, Leonardo DaVinci já havia percebido que elas
nem sempre precisavam bater as asas para voar e que exploravam
as correntes de ar, como fazem os urubus e abutres, por exemplo.
A partir de sua observação, DaVinci criou protótipos
de máquinas voadoras, muito antes da humanidade, de fato,
entrar na área da aviação.
O
fundador da Apple, uma das maiores empresas de tecnologia
do mundo já vislumbrava a evolução
humana com grande aplicação da natureza em
nossas ciências. “Eu acho que as maiores inovações
do século XXI estarão na interseção
de biologia e tecnologia. Uma nova era está começando",
disse Steve Jobs. |
Observando o voo das aves, o homem
vislumbrou que também poderia voar. Ícaro, a lenda
grega, onde asas artificiais construídas com mel de abelhas
e penas de gaivota, talvez tenha sido um prelúdio desse
desejo. Mas na vida contemporânea as aves já foram
utilizadas em inovações que mudaram ou melhoraram
o desempenho de máquinas e equipamentos.
A tecnologia do Martim-pescador
No Japão, o famoso trem-bala
atinge a incrível velocidade de 300 km/h e passou a ser
um importante meio de transporte no país. Entretanto, o
som que o veículo produzia estava muito acima dos limites
da poluição sonora no Japão. A partida dos
trens das estações causava uma explosão sônica,
acompanhada de vibrações que podiam ser ouvidas
e sentidas a cerca de 400 metros de distância. Os pesquisadores
e engenheiros japoneses identificaram a causa como uma pressão
atmosférica criada quando o trem passava por estruturas
estreitas, como túneis e as próprias estações
de embarque.
Após estudos, deduziram
que o problema, em parte, estava no design do nariz do trem, além
da resistência do ar que o veículo confrontava ao
entrar nesses espaços reduzidos (túneis e estações
de embarque). Utilizando a biomimética, logo encontraram
uma solução. O engenheiro e observador de aves Eiji
Nakatsu, encontrou a solução na anatomia de uma
ave, o martim-pescador, que mergulha em lagos e rios para caçar
seu alimento. Observou-se que a ave, como o trem-bala, mudava
drasticamente de um ambiente com baixa resistência para
ele, o ar, para outro com grande resistência, a água,
e sua aerodinâmica parecia perfeita para a circunstância.
A partir deste conceito, os trens-bala
passaram a ter seu nariz modelado, com o formato similar ao bico
do martim-pescador, que além de reduzir o barulho do veículo,
também ficaram 10% mais rápidos e 15% mais econômicos.
Muitas outras inovações
baseadas na biomimética são e estão sendo
desenvolvidas em várias partes do mundo e a cada dia a
humanidade evolui suas invenções baseando-se no
que a natureza já faz a milhões de anos. Outras
experiências sobre a biomimética podem ser vistas
no Biomimicry Institute. O fundador da Apple, uma das maiores
empresas de tecnologia do mundo já vislumbrava a evolução
humana com grande aplicação da natureza em nossas
ciências. “Eu acho que as maiores inovações
do século XXI estarão na interseção
de biologia e tecnologia. Uma nova era está começando",
disse Steve Jobs.
Em comemoração ao
centenário da aprovação da Lei do Tratado
das Aves Migratórias (MBTA, na sigla em inglês),
importantes instituições estrangeiras como National
Audubon Society, National Geographic, BirdLife International e
The Cornell Lab of Ornithology, oficializaram 2018 como o Ano
da Ave. Aqui no Brasil, a Agência Ambiental Pick-upau também
realizará uma séria de ações para
a promoção do Projeto Aves: Mata Atlântica,
patrocinado pela Petrobras, incluindo matérias especiais
sobre as aves nas mais diversas áreas, como na ciência.
O Projeto Aves: Mata Atlântica
realiza diversas atividades voltadas ao estudo e conservação
desses animais. Pesquisas científicas como levantamentos
quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria e dispersão
de sementes, polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio de
espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
da conservação das comunidades de avifauna.
O Projeto Aves: Mata Atlântica
é patrocinado pela @Petrobras,
por meio do Programa Petrobras Socioambiental, desde 2015.
Da Redação
Fotos: Reprodução/Pixabay |