21/08/2020
– Os papagaios-do-mar fazem parte da família Alcidae
e há três espécies, Fratercula arctica,
Fratercula corniculata e Fratercula cirrhata.
Fratercula arctica habita
o Atlântico Norte. É o menor das três espécies
e a diferença entre ele e Fratercula corniculata
é um triângulo de cor azul que possui na base do
bico. Na América do Norte se reproduzem nas províncias
canadenses de Terra Nova e Labrador ao nordeste dos Estados Unidos.
Na Europa a reprodução ocorre ao sul da costa da
Bretanha na França, ao norte da Islândia, Groelândia
e norte da Rússia. Sessenta por cento da população
se reproduzem na Islândia.
Fratercula corniculata é
semelhante ao Fratercula arctica, porém seu bico
é amarelado com a ponta laranja e não possui as
cores azuladas e acinzentadas próximas à base do
bico. A reprodução ocorre no noroeste do Alasca
ao sul, ao longo da costa até a fronteira do Alasca com
a Colúmbia Britânica. Durante o inverno permanece
ao sul das águas da Califórnia. Já foi visto
esporadicamente durante a primavera em Washington, Oregon, Califórnia
e na costa norte da Ásia.
Fratercula cirrhata
é o maior dos papagaios-do-mar e tem como característica
as longas penas que possui na parte de trás de sua cabeça.
Sua reprodução ocorre no noroeste do Alasca ao sul,
ao longo da costa até o centro da Califórnia. No
inverno permanece no mar do Pacífico Norte e na costa norte
da Ásia.
Estima-se que ocorram de 3 a 4
milhões de casais de papagaios-do-mar no mundo. Medem em
torno de 18 centímetros de altura e pesam em torno de 500
gramas. Em geral os machos são um pouco maiores que as
fêmeas, característica que pode ser notada quando
estão juntos.
Os papagaios-do-mar
vivem em torno de 20 anos ou mais. O indivíduo que viveu
mais tempo tinha 36 anos, porém ainda é difícil
determinar a idade máxima na natureza.
Durante o inverno as cores do
bico e dos pés são mais apagadas e na primavera
tornam-se mais alaranjadas para a reprodução. Conforme
ganha maturidade o bico e os pés ficam mais coloridos e
o bico aumenta de tamanho. A cor e o tamanho dos bicos servem
como parâmetro para que os papagaios-do-mar avaliem a qualidade
de potenciais parceiros.
Alimentação
A alimentação é baseada em diferentes tipos
de peixes como arenque, pescada e capelin, mas também comem
crustáceos no inverno, apesar de preferirem peixes.
Já foi visto
na Grã-Bretanha carregando para o ninho 62 peixes no bico,
porém carregam em média 10 peixes de uma só
vez. Seu bico é adaptado para segurar peixes, a língua
áspera pressiona o peixe contra os espinhos que a ave possui
no palato (céu da boca), desta forma consegue abrir o bico
e pegar mais peixes.
Reprodução
A reprodução não ocorre antes dos cincos
anos de idade. O papagaio-do-mar mais jovem a se reproduzir tinha
3 anos, porém era um indivíduo de zoológico.
Durante os anos que não estão em período
reprodutivo, eles aproveitam para aprender sobre os locais de
alimentação, escolha de parceiros e ambientes para
reprodução.
Os papagaios-do-mar formam casais
antes mesmo de chegarem às colônias de nidificação.
Quando chegam à costa esfregam os bicos para galantear.
Utilizam o bico e os pés
para escavar as cavidades e preferem fazê-las na terra ou
entre rochas em penhascos íngremes próximos ao mar
para dificultar o acesso de predadores. Com o bico cavam a terra
e com os pés a jogam para longe, semelhante aos cachorros.
A maioria das cavidades tem em torno de 70 a 110 centímetros
de profundidade. No fundo da cavidade eles depositam penas e grama
para tornar o ambiente macio e poder incubar os ovos. Na cavidade
tem um local para os filhotes defecarem e não se sujarem.
Conforme o estágio de maturidade avança, este local
é movido para mais perto da entrada do ninho facilitando
a limpeza dos filhotes.
Os papagaios-do-mar colocam um
ovo por ano e o casal utiliza a mesma cavidade durante anos. Ambos,
macho e fêmea incubam os ovos e cuidam dos filhotes. O ovo
é incubado por aproximadamente 40 dias antes dos filhotes
eclodirem.
A reprodução ocorre
em colônias de abril a agosto. No inverno de agosto ao início
da primavera permanece por vários meses em alto mar, distante
da costa, graças às adaptações que
possuem como penas impermeabilizantes, além do mais, conseguem
beber água salgada e se alimentam com eficiência
nestes ambientes.
Quando deixam as colônias
os filhotes permanecem em alto mar durante 2 ou 3 anos, depois
retornam para perto da colônia que nasceram e constroem
seus ninhos próximo à cavidade que seus pais utilizaram.
Como localizam a colônia de origem ainda é incerto,
porém provavelmente utilizam informações
como a posição das estrelas, campo magnético
da terra, sons, cheiros e pistas visuais do oceano.
Comportamentos e adaptações
Os papagaios-do-mar permanecem submersos em média durante
20-30 segundos, mas podem mergulhar por até um minuto.
Eles utilizam as asas para propulsão embaixo d’água
e os pés como leme.
Podem voar de 77 a 88 quilômetros
por hora e chegar a 400 batidas de asa por minuto. Quando dois
indivíduos brigam eles estufam o corpo para parecer maior,
abrem as asas e o bico. Quanto mais o bico é aberto, mais
o indivíduo está irritado. Também podem bater
os pés no chão para demonstrar que está descontente.
Eles usam os pés e as asas para tentar derrubar o outro
ao chão e às vezes ficam tão envolvidos na
luta que acabam rolando dos penhascos. Geralmente dez ou mais
indivíduos assistem a luta.
O modo de andar também
fornece informações aos outros indivíduos.
Quando um indivíduo está andando rápido e
com a cabeça baixa significa que ele quer apenas passar
e não quer problemas. Este comportamento é importante,
pois como as colônias possuem muitos indivíduos,
frequentemente um tem que passar pelo território do outro.
Para proteger as cavidades, o
indivíduo encarregado da defesa assume uma postura ereta
com o bico próximo ao corpo, na ocasião fazem muitos
movimentos lentos de um lado para o outro como se fosse um serviço
de guarda.
Muitas vezes ao aterrissarem,
param com um pé em frente do outro, asas abertas e cabeça
inclinada para baixo o que significa que não querem confusão
evitando uma possível perseguição de outros
papagaios-do-mar que estavam no local, isto permite a reunião
de vários indivíduos que podem se ajudar defendendo
o local contra predadores, por exemplo.
Ameaças e conservação
Os humanos impactaram muito os papagaios-do-mar no passado e ainda
sofrem atualmente com diversos problemas como com a pesca excessiva
observada na Noruega, por exemplo, na Ilha Rost, onde os peixes
tornaram-se escassos para os pais alimentarem seus filhotes e
muitos acabaram morrendo.
Animais como raposas
e roedores introduzidos em alguns locais pelo ser humano também
são fatores de ameaça aos papagaios-do-mar, mas
o principal predador é o gaivotão-real (Larus
marinus) que pode captura-los em pleno ar. Elas voam acima
das colônias e pegam um indivíduo solitário
desprevenido.
As gaivotas também esperam
os papagaios-do-mar retornarem do mar com o bico repleto de peixes
para roubá-los em uma relação de cleptoparasitismo.
Também retiram ovos e filhotes de seus ninhos. Nestas ocasiões,
os pais correm para a entrada do ninho com peixes no bico para
que as gaivotas peguem os peixes e não seus filhotes. Geralmente
os pais circulam ao redor do ninho para investigar se há
gaivotas próximas antes de dar o alimento aos filhotes.
Outro problema é ocasionado
quando navios petroleiros e operações de perfuração
acabam derramando ou vazando óleo, prejudicando a impermeabilização
das penas e interferindo na temperatura corporal dos papagaios-do-mar,
ao tentarem remover o óleo de suas penas, eles acabam ingerindo
prejudicando o funcionamento do organismo. Outros impactos são
os agrotóxicos utilizados em plantações que
acabam indo parar em rios e na sequência nos oceanos, turismo
descontrolado e muito próximo das colônias que às
vezes ocorre, além das mudanças climáticas
que podem alterar a temperatura dos oceanos e comprometer a reprodução
e manutenção dos peixes e o aumento do nível
do mar que pode inundar as colônias de reprodução
dos papagaios-do-mar.
Em 1900 os papagaios-do-mar foram
tão caçados que quase desapareceram do Maine, Estado
americano, restando apenas duas colônias isoladas. Então
em 1973, Stephen Kress iniciou um programa de conservação
direcionado a eles que visava restabelecer as colônias na
Ilha de Eastern Egg Rock, na metade da costa do Maine. O programa
foi patrocinado pela National Audubon Society e pelo Serviço
de Vida Selvagem Canadense. De 1973 a 1982, 954 filhotes foram
movidos para a região que continha cavidades artificiais.
Em 1977 foram instalados vários papagaios-do-mar confeccionados
a fim de orientar as aves para o retorno à ilha, então
no verão do mesmo ano vários papagaios-do-mar retornaram
ao local. Em 1981, o primeiro filhote nasceu após mais
de um século de ausência da espécie na região.
Fratercula arctica está
ameaçado de extinção, listado com vulnerável
pela União Internacional para a Conservação
da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), Fratercula corniculata
e Fratercula cirrhata não estão enquadrados
em nenhuma categoria de ameaça.
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Viviane Rodrigues eis
Com informações do Puffin FAQs | Audubon Project
Puffin e IUCN.
Fotos: Reprodução/Wikipedia/Pixabay
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