17/07/2025
– As áreas protegidas são essenciais para
preservar a vida selvagem, mas enfrentam crescente pressão
devido ao rápido aumento populacional na África
Ocidental. No Togo, dois parques nacionais foram quase destruídos
por atividades humanas ligadas a conflitos políticos. Em
contraste, o Parque Nacional Fazao-Malfakassa, o maior do país,
conseguiu evitar esse destino até recentemente. Antes de
1990, a região era pouco habitada, mas a imigração
e a expansão de assentamentos fizeram o número de
aldeias próximas mais que triplicar em 20 anos, aumentando
significativamente a pressão humana sobre o parque.
Muitas espécies de vida
selvagem que antes eram comuns no Togo agora só existem
no Parque Nacional Fazao-Malfakassa, como os elefantes-da-floresta
e os elefantes-da-savana africanos. Desde 1990, o parque foi gerido
por uma fundação suíça, mas passou
para administração estatal em 2015, o que levou
a um aumento da caça ilegal, segundo relatos da imprensa.
Apesar disso, há poucos estudos científicos sobre
a fauna do parque. Para avaliar sua conservação,
pesquisadores usaram aves como indicadores de biodiversidade,
realizando 90 dias de levantamentos entre 2022 e 2024, em colaboração
com a Universidade de Lomé. Os resultados foram publicados
na revista Land.
Pesquisas anteriores identificaram
199 espécies de aves no Parque Nacional Fazao-Malfakassa,
incluindo uma nova para o Togo. A pesquisa mais recente registrou
240 espécies, com 34 novas para o parque, entre elas o
primeiro registro do picanço-de-emin no país e o
primeiro avistamento do turaco-azul-grande desde 1990. No entanto,
também foram encontradas evidências preocupantes
de perda de biodiversidade, como a possível extinção
do abutre-de-dorso-branco e o declínio de espécies
ameaçadas como o bateleur e a águia-marcial. Além
disso, 91 espécies antes registradas não foram encontradas,
indicando um declínio significativo da avifauna local.
Atividades humanas como construção
de estradas, plantações comerciais, caça
ilegal, exploração de madeira, produção
de carvão, pastoreio de gado e destruição
de árvores para extração de mel estão
entre as principais ameaças à vida selvagem no Parque
Nacional Fazao-Malfakassa. Essas práticas, se não
forem controladas, podem levar à extinção
contínua de espécies, mesmo com a proteção
oficial do parque. Durante as pesquisas, foram observadas aves
raras em áreas também marcadas por caça ilegal
e queimadas provocadas por caçadores. Sinais da presença
de agentes ilegais foram encontrados em todas as regiões
visitadas, inclusive no interior do parque.
O declínio de
aves de rapina e necrófagos no Parque Nacional Fazao-Malfakassa
é alarmante e está ligado ao mercado negro regional,
que comercializa abutres, águias, corujas e outros animais
para rituais de vodu e "fetiches". Esse declínio
também acompanha a queda nas populações de
mamíferos, relatada por guardas florestais desde 2015.
Regiões antes usadas para safáris turísticos
hoje estão quase desertas de grandes mamíferos,
e os poucos ainda presentes demonstram medo extremo dos humanos,
fugindo rapidamente ao menor sinal de aproximação.
O estudo recente com armadilhas
fotográficas no Parque Nacional Fazao-Malfakassa identificou
várias espécies novas para o parque, incluindo a
civeta-palmeira-africana, e registrou pela primeira vez na natureza
o cabrito-de-walter, um dos mamíferos mais raros do mundo.
Espécies ameaçadas, como elefantes-africanos e colobos-de-coxa-branca,
ainda sobrevivem na região. No entanto, não houve
evidências recentes de leões, leopardos e outras
espécies antes comuns no Togo. O estudo também revelou
um declínio significativo na diversidade de mamíferos,
com apenas 27 das 52 espécies previamente registradas,
indicando uma perda de cerca de 48% na riqueza de espécies.
O declínio da vida selvagem
no Parque Nacional Fazao-Malfakassa também afeta a cadeia
alimentar, reduzindo a disponibilidade de presas para predadores
e necrófagos. Com menos mamíferos, aves como águias,
gaviões, abutres e o calau-terrestre-da-abissínia
— espécie agora rara no Togo — enfrentam dificuldades
para sobreviver. Embora os guardas florestais sejam fundamentais
para proteger essas áreas, durante as pesquisas foi constatado
que a maioria deles carecia de recursos básicos, como veículos,
combustível e suprimentos, dificultando patrulhas eficazes.
A proteção do Parque
Nacional Fazao-Malfakassa é dificultada pela corrupção,
com atores influentes interferindo na atuação dos
guardas florestais, o que os desmotiva a agir. Isso tem deixado
grande parte do parque vulnerável à ação
de caçadores, produtores ilegais de carvão, criadores
de gado e outros agentes que vêm degradando sua fauna, flora
e habitat. O parque é o último refúgio no
Togo para muitas espécies icônicas e ameaçadas,
destacando sua importância nacional e internacional. Embora
a pesquisa revele uma avifauna mais rica do que se pensava, ela
está severamente ameaçada. A exploração
ilegal para ganhos imediatos coloca em risco a sobrevivência
do último grande parque nacional do país, evidenciada
pelo desaparecimento de 91 espécies de aves e o declínio
de grandes aves de rapina.
O Parque Nacional Fazao-Malfakassa
recebe apoio financeiro essencial da União Europeia, do
PNUD e da UICN, somando milhões de dólares. No entanto,
é urgente que esses recursos cheguem efetivamente aos guardas
florestais que atuam na linha de frente da proteção
do parque. Recomenda-se a devolução da gestão
do parque à iniciativa privada, como forma de aliviar o
fardo do Estado, fortalecer as condições de trabalho
dos guardas e aumentar as chances de preservação
do valioso patrimônio natural do Togo.
Saiba mais: Lin-Ernni Mikégraba
Kaboumba et al., Avaliação de Ameaças ao
Parque Nacional Fazao-Malfakassa, Togo, Uso de Aves como Indicadores
de Conservação da Biodiversidade, Land (2025). DOI:
10.3390/land14020225
Criado em 2015, dentro do setor
de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau, a Plataforma
Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas ao estudo e
conservação desses animais. Pesquisas científicas
como levantamentos quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre
frugivoria e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine; produção
e plantio de espécies vegetais, além de atividades
socioambientais com crianças, jovens e adultos, sobre a
importância em atuar na conservação das aves.
Da Redação, com
informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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